terça-feira, 10 de junho de 2014

Deixa eu dormir com você essa noite, minha cama ta molhada


 Ele é desses, que vai sumir do nada numa noite de quinta-feira e vai ligar na madruga de sexta às 3h40. Sim, com certeza, eu irei ficar puta da vida com isso - ou - com - ele, e se fosse tempos atrás, na certa iria pensar que ele passou a noite em alguma balada dessas, por aí, se esfregando com aquelas vadiazinhas.
 E eu já sei, ele vai pedir desculpas e mais cinco minutos para poder se explicar, vai dizer que, parou num desses botecos de esquina que sempre ficam próximos as rodoviárias de ônibus, só para tomar uma cerveja. Também vai dizer que acabou fazendo amizade com um cara que estava sozinho encostado no balcão e que, ficou horas escutando o pobre rapaz lamentar sobre sua amada que lhe traiu, e quando foi ver, já estava o - tal - rapaz - corno, o garçom, um carteiro, dois garis, mais 3 rapazes estranhos e ele, discutindo sobre política, religião, futebol, samba e mulher. Ele sempre arruma um jeito de me convencer que, dás 17h até às 3h da manhã não viu a hora passar.
 Você pode esperar uma surpresa dele o mês inteiro, mas, só vai esperar. Ele é um filho da puta, que vai te encher de esperanças porém nunca vai te enganar. Naquele pior dia, que você vai estar toda descabelada, sem maquiagem, com a sua roupa mais básica, que você não está esperando nada de ninguém - nem aquela olhada espontânea daquele cara gatinho no trem. Pois ele vai aparecer no seu trabalho sem avisar, vai sorrir com aquela cara de bobo e vai te presentear, na certa você vai ficar com vergonha e querer matar ele na hora, mas, depois de saber que ele trouxe trufas de maracujá e marula com aqueles bilhetinhos estranhos, a raiva vai passar, sempre passa.
 Eu fico completamente puta, quando ele me liga em pleno domingo às 11h da manhã, querendo ir ao parque, depois ao cinema, jantar às 20h e, se der tempo, ir para Londres e ainda tentar dar um pulinho na África para salvar as criancinhas. Olha, vou te contar viu, aquele ali, você pode esperar tudo dele. Ou nada. Ele não vai te deixar em paz quando você estiver lavando louça, vai arrumar algum jeitinho de chegar por trás e se aproveitar de você, ele vai dar pulos quando te ver nua no banho ou no quarto trocando de roupa, se deixar, faz amor com você ali mesmo. "Eu diria para próxima namorada dele, não pegar elevador juntos, se possível evitar escadas de emergência também, muito menos cair no papinho dele, de dispensar o táxi só porque a lua ta bonita e que é melhor vocês irem andando, ó, qualquer beco ou rua escura é motivo de sexo, pra ele".
 Ele é um idiota, eu quero morrer quando ele me liga às 2h30 da manhã logo numa terça-feira, dizendo que está parado em frente ao meu portão, de samba-canção e regata, e com aquela desculpa esfarrapa, de quê a cama dele estava molhada por conta de uma goteira que havia no teto dele, por isso apareceu pedindo pra dormir na minha. Ele é louco. Droga! E eu sou louca por ele.

Renan Fonseca


segunda-feira, 26 de maio de 2014

Admirador secreto




 Avesso a tudo que prezas por real, sinto-me puxado a um universo paralelo. Neste, sou capaz de ver e ouvir, tocar, cheirar e sentir. Só o que não posso é falar, minhas tentativas de expressão são vãs, minha arte dita fajuta e tudo que é meu descartável. Caminho aqui mais lentamente, gozando do meu observar, vendo as minúcias de cada gesto teu. E eis que noto que já não me é mais importante alertar-te, uma que não me darás atenção e outra que me basta te ver assim como te vejo. Como um explorador que, com as mãos sujas, teme destruir a mais bela flor que já encontrara em sua jornada.

 Sei que em parte és deste lado daí, mas tens dúvida se pertences toda. Por outro lado duvido que toparias vir para o lado de cá, onde o que há de mais atrativo sou eu. Se paro para pensar nem eu viria, quem dirá você. És sempre tão bem acompanhada, tem tanto divertimento e alegria ao teu redor que me contenta só mirar teus sorrisos. Crer que são para mim, que são poemas entoados a nossa felicidade. E é ai que me encontras, sempre com um olhar temeroso desviasse de mim, como quem foge de algo que lhe atormenta.

 De fato eu sei o quão estranho isso lhe parece, sou consciente de que posso lhe causar estranheza e até asco. Mas juro não fazê-lo por mal, não, jamais lhe faria mal algum. É que acho teus traços tão belos, teus olhares tão convidativos que não posso me concentrar no que fazia antes, e quem liga, tudo que sei é gravar-te. Memorizar cada tremor, cada pulsar, para que em meio a meus rabiscos toscos eu consiga reproduzir tamanho esplendor. Para que em minhas estrofes sem métrica, eu saiba reproduzir essa bela dança dos teus lábios ao falar. Que pretensão a minha.

 Dadas as circunstancias, deixar-me ei desvanecer. Torno-me a sombra, se preciso for, só por saber que minha ausência à de te fazer feliz completa. Caminhando em meu mundo sinestésico, psicodélico e etéreo. Longe de tudo que é real a ti, impedindo tudo que lhe possa fazer menção a mim. Para que distante eu possa me tornar próximo, te observando ser feliz por mim.


[Por Leonardo Wolf]






quarta-feira, 30 de abril de 2014

Você tem fome de quê?

 Júlio chega, deita o chão, dorme – dorme não, cochila -, acorda, bebe um leite na caixa mesmo, tenta sorrir, sorri, dessorri, escova os dentes com a pasta vencida, guarda o dedo usado pra a escovação, arruma o tapete, arruma as coisas, guarda as coisas, bebe água da bica pública, escolhe um lugar, arruma o lugar, tira as coisas, arruma as coisas, começa a afinar, a cantar, cantando O Barbeiro de Sevilla. Chega em casa, com 2 reais, pois os outros 5 estão na igreja. Liga o rádio e fica sabendo de todas as notícias dos “talentosíssimos” músicos ostentações e dos “gênios” jogadores de futebol. Com sua ignorância, num barraco no bairro da Maré, ele retira seus livros de Gabo e de Rosa, pensando em, amanhã, pesquisar sobre Einstein ou Gandhi na Biblioteca – caso, dessa vez, possa entrar mesmo sem ter uma Havaianas nos pés.

Por Humberto IV


segunda-feira, 14 de abril de 2014

Confissões não confessadas.

"Na nossa despedida, na minha partida, meu coração sempre fica e você sempre vem, mas não da pra te ter aqui com o meu coração perdido lá na tua casa, dentro do teu quarto jogado na tua cama bagunçada. Eu andei tomando um caminho errado, um rumo meio "coisado," não estava nos meus planos ter encontros fim-de-semanais com você, não estava nos meus planos sentir falta desse teu sorriso em falsete ao longo da semana, assim como também não estava nos meus planos, carregar o cheiro do teu cabelo na minha jaqueta, quando volto pra casa. Eu andei errado tentando fugir desses encontros casuais. Confesso que não estava nos meus planos dizer que teus lábios avermelhados me faz bem e, também confesso que, com toda essa pequenura tua, o teu sorriso ainda é muito grande pra mim. Confesso que estou um pouco assustado com esse lance de apelidos carinhosos, porra, a única coisa que eu não queria confessar é que, o lugar mais aconchegante do mundo esta sendo esse teu par de braços pequenos e, não nego que, é... ah, eu não consigo negar(...)"
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[Renan Fonseca]


O que não foi e o que era pra ser.


 Avistei de relance um senhor de idade avançada, ele varria com firmeza um monte de folhas. Pude notar que ele varia contra o vento e contra o declive da rua. Eram movimentos mecânicos que, em suma, empurravam perpetuamente o mesmo monte de um lado para o outo. Entre varridas e brisas, ele soltava um resmungo, um sussurro, uma exclamação. Folha a folha ele repassava um ato, uma fala, e um monólogo, empurrava-a para cima e como se o mundo apertasse o play, ele observava-a voltar junto com as imagens daquele dia em questão. Quando o filme termina, ele volta, os olhos retomam o foco e então ele percorre todo o caminho de volta, comentando o ocorrido com aquele que se tornara o seu melhor amigo, ele mesmo. Pouco a pouco as folhas vão se reagrupando com as ideias que já não lhe valiam mais, e com movimentos firmes ele expulsa os pequenos detritos, que voam para longe, deixando apenas as folhas que ali estão e as que ele achava que deveriam estar. Com a pilha limpa ele dá seu último parecer, faz suas indagações finais e conclui, mirando a pilha, que agora já está perfeita, o que aquele dia lhe ensinou. A brisa, entretanto não para e pilha logo muda de forma e adquire um aspecto diferente, toma nova forma e ganha volume. Um novo momento lhe chama atenção e aos poucos os seus olhos se perdem novamente, ele se apoia na vassoura: ”Eis que a mais o que discutir meu velho, acho que uma pilha só não vai dar pra esse caso.”

[Leonardo Wolf.]

sexta-feira, 11 de abril de 2014

É sexta-feira amor




"Hoje é sexta, hoje eu não to pro amor, mas... se você quiser posso estar pra você. Hoje eu não to pra sofá, muito menos pra almofadas felpudinhas em cima do colo, alias, posso estar pra sofá sim, mas não garanto ele do mesmo jeito na manhã seguinte.
Ei? desliga essa TV aí. Coloque um som pra que eu possa te abraçar, ah não, hoje é sexta, xá pra lá, vamos fazer um Funk na cama, depois agente vai de Caetano à Nando Reis.
Xá-me-perder na fumaça desse baseado. Xá-me-perder nesse teu sorriso. Xá-pra-lá-esse-sofá, sá-casa. A noite ta linda, vamos dar um show em alguma praça qualquer por ai, lhe compro aquela garrafa de Curaçau Blue que tanto gosta, e como você sabe, um copo só pra nós dois basta, sempre bebemos no mesmo copo, o brinde maior é no olhar mesmo.
Cê sabe, eu adoro aquela tua calcinha que parece de vovó, sei que tu não é fã de poucos panos, diz ser desconfortável calcinhas pequenas, fica tão sexy com ela, sabia?! mas hoje, pode usar só o vestido mesmo, tu também fica sexy sem nada por baixo.
Adoro escutar tuas gargalhadas, teus engasgos com a fumaça do cannabis, também adoro o jeito que cê fala meu nome, e de formar uma dupla à la Cheech and Chong, chapadão... Sá lua aí? topa mostrar pra ela, que o amor não vesti roupa?"

[Renan Fonseca]

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Guess Who's Back--

Hoje eu sentei num banquinho no meio do meu quintal. É um desses banquinhos pequenos de se apoiar as pernas. De cima dele pude contemplar a vastidão. Com essa imagem me obriguei a escrever. Me obriguei, não por encarar essa uma tarefa árdua. Mas sim por querer saber o que tem dentro de mim que eu não estou vendo. Meu quintal é bem minúsculo mas pude ver longe, não por olhar pra fora mas sim para dentro. Percebo que eu engordei, percebo que as plantas estão morrendo, pensei até que deveria ver o que estão falando de mim on-line. Esse ímpeto quase destruiu tudo o que eu estava prestes a fazer se não fosse minha mania de me contestar. “Você vai chegar lá e notar que não há nada de novo”, as pessoas estão seguindo suas vidas, alguém está almoçando, alguém está gastando dinheiro.
Notei então que eu senti a sua falta. Você que me deu bons motivos para abrir a boca em momentos em que tudo que eu queria era ficar calado. Você tem sido um escape como sempre, e não se sinta mal, te contar o que eu sinto, mesmo que indiretamente me tem feito crescer de maneira inacreditável ao longo desse tempo que passamos juntos. Entretanto eu estive ocupado com miudezas esses últimos tempos, o que me tem impedido de te falar.
Tenho caminhado de cabeça baixa, se bem se lembra meu mundo é mais colorido quando deixo a vista embaçar em direção a um lugar qualquer. Eu continuo indo e vindo só. Sim meu amigo, continuo o mesmo babaca de sempre, jugando e refutando a mim mesmo antes de qualquer contato. Se bem se lembra 98% dos meus relacionamentos terminou no cruzar de olhos. Não sei o porquê, mas algo em mim sempre garante que não mereço, melhor, ninguém merece me ter por perto. Eu que fico mais dentro de mim mesmo que fora devo ser é um belo pé no saco para se conviver.
Eu estou gordo, e de veras preguiçoso. Muito mais do que costumava ser a um tempo atrás. E isso porque antes, algo em mim me fazia lutar para mudar meu quadro geral, isso já não me é mais tão pungente. Não se preocupe (assumo que você tenha se preocupado só pra poder terminar o argumento, não negue ainda!) o fato de ter percebido esse desleixo já me faz mudar automaticamente. Eu devo ter uma espécie de bipolaridade doentia que me deixa cair e desgraça e depois me puxa novamente, só para testar minhas teorias filosóficas e gerar assunto para que tenhamos o que falar.
Em suma voltarei a lutar para estar com você, de pouco em pouco, pois você me faz bem caro amigo. Gostaria de retribuir, mesmo que por um parágrafo em meio ao meu mimimi que já sabe de cor. Vejamos de que absurdos falaremos dessa vez, o que há por vir. E por favor, já que seria um tanto esquizofrênico se você me respondesse agora (enquanto escrevo), sinta-se a vontade para me perguntar. No mais era isso por enquanto, aguarde e confie.


[Leonardo Wolf]